terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Por aí... Onde brilhem os olhos: Expedição Pet Friendly na Europa


Arquivo: Onde Brilhem os Olhos

Conhecemos a Isa e a Pipoca em uma das aventuras da Turismo 4 Patas, em 2015. Elas passaram um final de semana animal com a gente, na cidade de Monte Alegre do Sul (SP). Só ficamos sabendo que a Isa era vegetariana e que a Pipoca havia sido adotada. Pronto, não mais que isso. Éramos um grupo considerável e as duas se mostraram bem reservadas e aparentemente tímidas. Mas muito simpáticas.

Eis que algum tempo depois, me deparo com um perfil no Instagram onde uma menina se lança numa aventura pelo mundo, a bordo de uma bicicleta e na companhia da sua fiel escudeira canina. Amei a proposta e já quis logo fazer uma matéria para o nosso Blog, lógico! Afinal, nosso propósito é mostrar a vocês as diversas formas de explorar o mundo na companhia dos nossos mascotes.

Olha elas ai, no Rota Cãotural

E quando a Isa responde ao meu e-mail, já com um super relato, que serviu de base para esse texto, e fotos dela com a Pipoca nos lugares por onde já passaram... Eita, olha elas!!! Ahahhaha meninas, onde vocês foram parar?!! De Monte Alegre do Sul, fui encontrar vocês na Europa. Que delicia! Fiquei mais motivada ainda... e acabei escrevendo quase um livro... inspirada pelo quase livro que a Isa me enviou eheheheh.

Bom, a Isa é uma paulistana, apaixonada por cachorros, que, quando criança, passava o tempo estudando inglês sozinha e brincando de ser motorista de ônibus de viagem com a irmã. Ela, que sonhava em ser veterinária, acabou se formando em Turismo.  (já vi essa história em algum lugar... ehehe).

A Pipoca foi resgatada por uma protetora na região do Parque do Ibirapuera, capital paulista. (coincidentemente, através do lindo da trabalho da Villa do Amigo, comandada pela querida Silvana Mitne, de quem sou fã e amiga há anos). Segundo Isa, ela tinha cerca de 1 ano e meio, era arredia, tinha problemas de pele e estava quase 10kg abaixo do peso. A protetora fez um ótimo trabalho de recuperação, e quando a Pipoca veio pra casa, já estava com a pelagem linda e o peso quase normal. Mas ainda tinha bastante problemas de comportamento – o que rendeu muitos estresses, prejuízos e até boas risadas para sua nova tutora.

Pipoca cresceu, o casamento de Isa terminou, as duas mudaram de vida e, com isso, passaram a ter mais tempo juntas... curtir parques e áreas verdes da cidade, andar de bicicleta e (porque não?!) viajar juntas... as poucas viagens que Isa fez sem a Pipoca, a deixaram com uma sensação muito forte de que teriam sido muito mais divertidas se ela estivesse junto. Então, em 2014, Isa decidiu investir pesado numa caixa de transporte de boa qualidade, cuidou da adaptação da Pipoca com a caixa e começou a pesquisar destinos “pet friendly” e dicas de segurança para viagens com bichos de estimação. Foi assim que ela “esbarrou” em nosso site – www.turismo4patas.com.br – e se inspirou no nosso Blog (que, na época, se chamava Blog da Cléo).

Pipoca totalmente adaptada à caixa de transporte

Em 2015, com “sangue nos olhos” (como ela mesma escreveu), prontas pra cair na estrada em qualquer oportunidade de feriado, as duas fizeram um programa de voluntariado numa fazenda orgânica e foi lindo ver a Pipoca tendo que aprender a conviver em matilha – a fazenda tinha cerca de 16 cães! Depois foram à praia, às montanhas, e foram parar no Rota Cãotural com a T4P (onde nos encontramos pela primeira vez).

Isa queria mais. Para ela e para a Pipoca. Começou a pesquisar sobre viagens internacionais e fez os trâmites para emissão do passaporte canino. Ela sempre quis fazer uma viagem longa, mas achava que era um sonho impossível. Até que, um dia, voltando no metrô lotado de um dia frustrante e estressante no trabalho, decidiu que era hora de pensar sério no tal ano sabático. Chegou em casa, abriu o mapa-mundi e passou quase a madrugada toda debruçada sobre ele, e pesquisando sobre viagens “volta ao mundo”. Sua vontade era viajar pela América do Sul, aprender sobre nossas raízes culturais e socializar com nossos vizinhos hispânicos, mas depois de alguma pesquisa se deu conta de que, com uma cachorra do porte da Pipoca, viajar pela Europa seria consideravelmente mais barato do que viajar pelo nosso continente!

Alemanha, aí vão elas!!!

Como tem a nacionalidade europeia – herdada do avô português –, não teria que se preocupar com a burocracia dos vistos e tempo de permanência nos países. Além disso, a facilidade de locomoção entre os países europeus por meio de trens, aliada à cultura bem mais pet-friendly nos meios de transporte e estabelecimentos comerciais quando comparada ao que temos na nossa América, ajudaram Isa a tomar a decisão. Optar por começar pela Alemanha foi um misto de pesquisa por qualidade de atendimento das companhias aéreas e oportunidade de voluntariado em fazendas orgânicas, que era um dos objetivos da viagem de Isa.


Mas agora, vou deixar ela contar um pouquinho destes preparativos para vocês:

Bagagem das meninas


TURISMO 4 PATAS: “Como foi a preparação da Pipoca para a viagem?”
ISA: “Como a Pipoca já tinha o passaporte brasileiro (e consequentemente o microchip), só o que faltava pra ela atender as regras da União Europeia era a Sorologia Antirrábica, que apesar de não ser muito caro nem complicado de fazer (basta enviar uma amostra de sangue pro CCZ de São Paulo analisar e te fornecer um certificado de que ela está livre e protegida do vírus), demanda certo tempo (pelo menos 3 meses!) e tem risco de precisar refazer, então percebi que era melhor fazer o quanto antes, mesmo ainda não tendo data definida pra viajar.    

Também comecei a pesquisar regras específicas de países vizinhos que pudessem servir de alternativa caso eu decidisse não pousar na Alemanha (de novo, por questões de qualidade de atendimento da companhia aérea), como por exemplo, a Suíça, que além da documentação padrão da Comunidade Europeia, também requer uma pré-autorização – uma espécie de visto - para entrada no país. Não custava ter essas informações na manga para ajudar na decisão de compra das passagens aéreas lá na frente.

A adaptação à vida de mochileira já estava sendo feita, e nessa altura a Pipoca já tinha paixão pela caixa de transporte dela, o que me deixava mais segura em relação ao vôo. Tranquilizante era algo que eu já tinha decidido não adotar (talvez para mim, nunca pra ela, haha), então saber que ela se sentiria segura na “Caixa Forte” dela acalmava bastante meu coração. A troca de Alimentação Natural pela ração seca também aconteceu alguns meses antes do embarque, para que ela pudesse se adaptar aos poucos e eu tivesse tempo para pesquisar as melhores opções disponíveis no mercado. “

Pipoca ajudando a vender as coisas que não acompanharam a dupla


TURISMO 4 PATAS: “Fale um pouquinho sobre o Projeto Onde Brilhem os Olhos”
ISA: “Faltando cerca de 6 meses para o embarque eu comecei a me desfazer das minhas coisas. A casa que morávamos era alugada e eu sabia que teria que entregá-la vazia ao término do contrato. Foi nessa hora que percebi como a gente acumula coisas inúteis nessa vida! Tem uma canção do Biquini Cavadão que diz “Tudo que morre fica vivo na lembrança. E como é difícil viver carregando um cemitério na cabeça!”. Esse trecho define bem o momento que passei. Não só nas lembranças mas principalmente nas coisas que a gente encosta dentro de casa pensando que um dia vai ser útil, e quando volta a ver, nem lembra mais pra quê aquilo servia! Aparelho de jantar 42 peças (pra uma moça vivendo sozinha!), moedor de carne (eu era vegetariana!), bichos de pelúcia da adolescência, livros lidos na época do vestibular… Afff!

Com a ajuda de uma amiga, começamos a fotografar tudo pra anunciar em brechós online. Na primeira leva de roupas anunciadas consegui me desfazer de pelo menos 15 peças numa única semana, o que já rendeu o valor da sorologia da Pipoca e ainda um troquinho para o café com a amiga ajudante! Tivemos a ideia de montar um perfil no Instagram com fotos engraçadas da Pipoca anunciando nossos trecos à venda e essa ideia rendeu boas risadas e mais uma graninha pro cofrinho da viagem.  Esse é o mesmo Instagram onde publicamos fotos da viagem hoje (@ondebrilhemosolhos).”

Agora ninguém segura as meninas!



TURISMO 4 PATAS: “E como foi a chegada em solo Europeu e a adaptação à nova vida itinerante da dupla?”
ISA: “Em Março de 2016, desembarcamos no Aeroporto de Munique, na Alemanha. Um amigo de viagens anteriores veio nos receber no aeroporto e nos hospedou nos primeiros dias na Terra da Cerveja. Era fim de inverno e foi a primeira vez que a Pipoca viu neve.  


Do sul da Bavaria, seguimos de trem para nosso primeiro voluntariado numa Fazenda de produção de Leite Orgânico na região do Allgäu. Foi lá que a gente adquiriu um trailer para acoplar a uma bike que a gente ainda não tinha, mas já estava planejando comprar.


A primeira bike a gente comprou usada pelo equivalente a cerca de 50 reais. A bicicleta era tão ruim, mas tão ruim, que nossa host ficou com dó e propôs uma troca pela bike antiga dela, que também não era lá essas coisas mas era melhor que a que a gente tinha comprado.


Seria na nossa próxima fazenda, na região de Stuttgart, que a gente encontraria nossa bicicleta dos sonhos, específica para viagens de longas distância, mais robusta e com aceleração assistida por bacteria elétrica, o que me permitiu pedalar quase 3mil kilômetros ao redor do país (quase) sem sentir que estava carregando 40kg de amor <3 .="" font="">

Pipoca na Igreja: Alemanha pet friendly



TURISMO 4 PATAS: “Isa, nós sabemos que a Alemanha é uma das principais referências mundiais quando se trata de hospitalidade animal. Fale um pouquinho do que vocês já experimentaram dessa cultura pet friendly exemplar.”
ISA: “Aqui na Alemanha a Pipoca (assim como todos os cachorros) é aceita em quase todos os lugares. Cafés, restaurantes, oficinas, transportes, museus, igrejas, teatro, cinema…! Nunca foi problema encontrar fazendas pra gente voluntariar e, ao contrário do que isso possa parecer – e pra minha grande surpresa aqui – não é todo mundo que ama cachorro não! Tem bastante gente que tem nojo, medo, ou que simplesmente não curte animais.


Nunca vou esquecer nossa estadia numa fazenda de produção de mel, onde o apicultor, apesar de corajoso a ponto de lidar com as abelhas, totalmente desprovido de roupas de proteção, tinha um grande trauma e pavor de cães. Quando perguntei por que ele aceitou nos receber mesmo sabendo da Pipoca, ele respondeu que estamos todos no mesmo planeta e que fugir às lições que a vida nos recomenda é uma péssima forma de crescer, pulando etapas que certamente vão nos fazer falta lá na frente.


A [grande] diferença é que aqui rola um respeito ENORME nas relações pessoas-animais. A premissa básica é: todo estabelecimento comercial tem o direito de não aceitar animais, mas daí precisa especificar com um adesivo na porta. Se não tem adesivo, significa que seu peludo é bem vindo. Só que os tutores em geral são muito conscientes e preocupados em não incomodar as outras pessoas. Se um restaurante está cheio, tem gente que prefere não entrar com o cachorro, mesmo sendo permitido. Porque sabe que vai ser mais difícil não esbarrar em alguém que por ventura pode não gostar de animais…


Aqui não tem cachorro de rua, então quando se decide adotar um, as opções são comprar em um canil – como no Brasil – ou ir a um abrigo escolher um vira-lata normalmente vindo de países mais pobres do leste europeu, ou mesmo da Espanha ou Portugal. Mesmo no abrigo, a adoção só acontece depois do pagamento de uma taxa em torno de R$200 (podendo passar dos R$1000 dependendo do porte do animal!). Boa parte dos abrigos aplica uma entrevista para avaliação do futuro tutor e depois da adoção ainda tem uma taxa anual a ser paga ao governo, uma espécie de “imposto do pet”.


Outra coisa muito interessante aqui é a cultura do adestramento. Logo no momento da adoção, você já sai do abrigo / canil / loja de animais com um encaminhamento para uma escolinha onde você e seu mascote vão aprender sobre a vida em sociedade. O “curso” não é obrigatório, mas já está tão incutido na cultura que as pessoas simplesmente vão lá e fazem, pelo menos uma vez na vida. Em alguns estados da Alemanha, o tutor precisa fazer uma provinha teórica para receber a “autorização” para a tutela do animal (!) e esse cursinho ajuda a não falhar na prova… =P


Apesar de questionar um pouco essa supervalorização da ordem e regras, tenho que admitir que é notória a conscientização dos alemães no que diz respeito ao cuidado animal. E mesmo com o planeta, com a natureza, em geral existe uma responsabilidade sócio-ambiental que eu sonho um dia ver na mesma intensidade no nosso Brasil. A Alemanha não é perfeita. Na verdade eu gosto de dizer que a Alemanha é tão perfeita quanto o Brasil, cada qual em seu quesito e especialidade. E eu me sinto bem privilegiada de poder vivenciar esse período sabático aqui, trocar figurinhas humanas e caninas para um dia voltar trazendo na bagagem experiências que me ajudem a ser uma pessoa melhor em um ambiente também em constante melhoria. <3 font="">

Quem não se inspira com esse amor?!



TURISMO 4 PATAS: “Você quer deixar uma mensagem para inspirar pessoas que, assim como você, tem o desejo de se desbravar o mundo, mas ainda não teve a coragem de colocar uma mochila nas costas, a coleira no cachorro e sair por ai ?” (E nessa eu me incluo ehehe)
ISA: “Muitas pessoas me perguntam “Mas você trabalha quando fica nas fazendas? Você trabalha para manter sua viagem?” Bem, eu viajo. E quem viaja nesse estilo sabe que viajar dá um trabalhão danado! Quanto mais experiência se adquire, mais se aprende que dinheiro é das coisas menos valiosas que se pode carregar em uma viagem de auto conhecimento como a minha. Sério, ele não vale nada! E quanto mais tempo com a Pipoca eu passo, mais percebo que minha vida (e minhas viagens!) daqui pra frente tem muito mais sentido quando se tem um amigo ponta firme do lado.”


Isa e Pipoca deram uma volta ao redor da Alemanha e estão agora a caminho de Portugal. Já percorreram cerca de 3 mil quilômetros, dos quais pelo menos 2700 de bicicleta. Em algumas ocasiões elas se valeram de caronas e trens, quando o vento e chuva não eram favoráveis para pedalar. A estadia foi majoritariamente em fazendas e casas de pessoas, sendo poucas vezes necessário acampar e somente uma única vez foi preciso pagar um hotel.




Estaremos aqui torcendo, vibrando e acompanhando a linda expedição destas meninas... Onde quer que brilhem os seus olhos!




Acompanhe você também:
ou @ondebrilhemosolhos

Vão em frente, meninas!

Larissa Rios

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