quinta-feira, 17 de março de 2016

Câncer Canino: Diagnostico


 
Como vocês já leram aqui em um post anterior, a Cléo, minha filhota e mascote da Turismo 4 Patas, foi diagnosticada com um tumor no intestino. Sim, um buraco se abriu aos meus pés quando recebi essa noticia. Um filminho, daqueles em que conseguimos assistir toda uma vida no mesmo segundo em que dura uma piscada, passou pela minha cabeça, relembrando todos os momentos que passamos juntas. E um medo gigantesco arrepiou a minha espinha.

Mas não durou muito ... Foi o tempo suficiente para eu puxar a cordinha do paraquedas enquanto caía naquele buraco que se abriu aos meus pés...  Enxuguei as lágrimas, recolhi os sentimentos de derrota, fraqueza e pessimismo que tentavam me dominar e tranquei dentro do baú do esquecimento.
Ainda que o câncer seja ameaçador (e é, muito!), não significa uma sentença! E cá estava eu, assimilando a minha primeira lição: o diagnóstico do câncer não determina o final da linha. Ele apenas dá a largada para uma sequência de batalhas. E como eu nunca fui de fugir de nenhuma guerra, parti para o ataque.
 
Nós poderíamos ter algo muito importante ao nosso favor: especialistas afirmam que, quanto mais rápido a doença for diagnosticada, maiores são as chances de cura, pois tudo depende do tipo de tumor e do quanto a doença está avançada. A Cléo havia feito uma Ultrassonografia  a cerca de 6 meses (quando apareceu o sangramento nas fezes) e o tumor não havia aparecido nas imagens. Portanto, era bem provável que ele não estivesse ali há muito tempo... a gente pode ter pego tudo bem no iniciozinho.
 
Mas, para sabermos qual era a real situação lá dentro e também obtermos outras respostas, precisávamos realizar uma cirurgia de extração do tumor.
 
Mal tive tempo para decidir, até porque não havia o que se pensar. Era preciso retirar aquele tumor do intestino da Cléo com urgência e começarmos a agir.
 
A cirurgia ocorreu no Centro de Saúde Animal Zoovet, onde a Cléo foi operada pelo Dr Gabriel Seabra, e durou 4 (intermináveis) horas. Eu quase surtei, ali sentada na recepção da clinica!! Na verdade, o que mais tomou tempo foi a sedação, já que a minha pequena guerreira deu algum trabalho para se entregar à anestesia. E também o fato de que a equipe médica teve todo o cuidado para que o tumor fosse retirado com boa margem de segurança e o intestino fosse o mais preservado possível. Deu tudo certo!!

Diante de todo o risco de uma cirurgia aos 9 anos de idade e de ser um procedimento bastante delicado e invasivo, minha filhota resistiu bravamente e 2 dias depois já estava em casa, serelepe e alegre. Uma recuperação extraordinária!

E agora, com o material em mãos, o passo seguinte seria o envio para as análises que nos dão o diagnóstico e a identificação do câncer.
 

COMO O CÂNCER É DIAGNOSTICADO

Exames de imagem e clínicos podem encontrar os tumores. Mas só a partir das análises laboratoriais das amostras coletadas destes tumores, é que podemos obter o diagnóstico específico.

Um diagnóstico de câncer é realizado através das analises das amostras de células ou de tecidos ao microscópio. Em alguns casos, testes laboratoriais como DNA e RNA, ajudarão a dizer se o câncer está (ou não) presente. Estes testes também podem ajudar na escolha das melhores opções de tratamento. Análises das células e tecidos podem evidenciar muitos outros tipos de doenças e não só o câncer. Por exemplo, se os médicos não tem certeza de que um nódulo é cancerígeno (nem todos os nódulos são câncer), eles podem processar a amostra para determinar se é câncer ou eventualmente outra enfermidade como uma infecção  ou outras alterações que podem causar o aparecimento de lesões parecidas com o câncer.

O primeiro processo que é realizado para este fim se denomina biópsia, e a amostra de tecido é chamada espécime de biópsia. O exame é denominado de Exame Patológico. É ele que determina se um tumor é maligno ou benigno.

Os resultados de biópsias e citologias de rotina podem levar de 1 até 7 dias para ficar pronto, após a amostra ser recebida no laboratório.
 
E foi depois de dias de imensa ansiedade e expectativa (e muita torcida para que o tumor fosse benigno), que ouvi, numa voz disfarçadamente embargada do Dr Gabriel, que, infelizmente, o resultado apontou o tumor da Cléo como maligno.
 
Eu demorei a aceitar que ouvi aquilo, nem sei como dirigi de volta pra casa e, quando cheguei lá e me deparei com ela, desabei num choro compulsivo, que foi interrompido por uma lambida. Mais uma vez, lá estava ela, ao meu lado, pra me consolar, dizendo, à sua maneira, que tudo iria ficar bem.
Quantas lições essa cachorrinha  já me deu ao longo da sua vidinha!!  Pois é, nós duas sabemos, como poucos, levantar e sacudir a poeira... E, não seria um tumorzinho que iria nos derrotar. Não assim, tão facilmente!
 

TUMORES: BENIGNOS E MALIGNOS
 
 

Esta é a questão que mais nos assombra quando detectamos um tumor, seja em um humano ou em nossos animais. É a partir desta identificação que traçamos todos os passos seguintes, que respiramos um ar mais denso ou mais leve, que necessitamos de mais ou menos reforço em nossa fé.
Como já falamos, é através da análise das células ou de um fragmento do tecido que compõe o tumor (a biópsia), que o patologista confirma a natureza benigna ou maligna da neoplasia.
Basicamente, a diferença entre benigno e maligno é definida pela aparência e estrutura das células atacadas pelo tumor.
Os tumores benignos são constituídos por células bem semelhantes às que os originaram e não possuem a capacidade de provocar metástases. Já os malignos são agressivos e possuem a capacidade de infiltrar outros órgãos. Eles crescem localmente, de forma lenta, e não têm a capacidade de se espalhar para outras regiões do corpo. Na maioria dos casos pode ser totalmente removido (e o paciente curado) por meio de cirurgia.

Os tumores malignos (tumores cancerosos) são aqueles que têm a capacidade de se espalhar, as vezes rapidamente,  para outras regiões do corpo, quer localmente, através da corrente sanguínea, ou através o sistema linfático. A cura neste tipo de tumor depende do diagnóstico precoce e do tratamento adotado. Muitas vezes, necessitam de quimioterapia e Radioterapia, na tentativa de se chegar a células cancerosas que se espalharam para além da região do tumor ou são deixados para trás após a cirurgia de remoção de um tumor

Após a cirurgia caso sejam deixados alguns resquícios de células, tanto os tumores benignos (mais raramente) quanto os malignos podem reaparecer mais tarde perto da região do tumor original. A cirurgia para remover um tumor maligno é mais difícil do que a cirurgia de um tumor benigno.

Fontes: Hospital Albert Einstein, Oncoguia,  Site da ONCOCANE e Dra Renata Sobral (www.renatasobral.com.br)

 
Bom, agora que já sabíamos com “o quê” estávamos lidando, precisávamos saber com “quem” haveríamos de aprender a conviver.
 

COMO O CÂNCER É IDENTIFICADO

Embora a maioria dos cânceres possa ser identificado após o Exame Patológico (biópsia), às vezes, é preciso utilizar outros procedimentos especiais para se obter um diagnóstico mais preciso e identificar o tipo e grau exatos de um câncer.

São estudos especiais que podem utilizar-se de corantes químicos, da análise de alterações cromossômicas, da identificação de sequências de DNA específicas , e outros. No caso do tumor da Cléo, submetemos a amostra à análise imunohistoquímica.
 
Imunohistoquímica (ou coloração por imunoperoxidase) é um método de análise dos tecidos via microscópio, que utiliza anticorpos produzidos em laboratório para reconhecer antígenos que estão ligados ao câncer, buscando identificar características moleculares das diversas doenças. É muito útil na identificação de certos tipos de cânceres.

Em diversos casos é necessário utilizar o exame imuno-histoquímico, por exemplo, para fornecer dados mais preciosos e individualizados sobre o melhor tratamento e provável evolução do câncer. Esse exame pode auxiliar em diversas situações, tais como o diagnóstico de tumores indiferenciados - definir se um tumor é um carcinoma, linfoma, melanoma ou sarcoma. Como cada tipo de tumor tem um tratamento e evolução diferente, é importante tentar diferenciá-los através da imuno-histoquímica, que vai pesquisar moléculas associadas a diferentes tipos de tumor, podendo nos apresentar a caracterização de linhagens de diferenciação de células tumorais.

 

E, no resultado do exame Imunohistoquimico, tivemos o desprazer de conhecê-lo: Sarcoma Estromal Intestinal , também conhecido como GIST (ou Tumor Estromal Gastrointestinal ).

O GIST é um tipo raro de tumor do trato gastrointestinal (TGI). É raro mesmo em humanos e dificilmente encontrado em cães. Com alto grau de malignidade, tem uma significativa tendência a metástases. Estes tumores são considerados verdadeiros “achados clínicos” (que, cá pra nós, eu preferia não achar).

Sua causa está mais fortemente ligada à mutações genéticas. O termo estromal é referente à origem das células que formam este tipo de câncer, que são provenientes do estroma - tecido de conexão e sustentação do TGI (trato gastrointestinal. Os sintomas podem ser: hiporexia, dor e distensão abdominal e sangramentos digestivos, mas a maioria dos casos são assintomáticos e isso dificulta seu diagnóstico precoce. A Cléo, como sabemos, só apresentava uma pequena quantidade nas fezes e nada mais.
 
 
Locais de surgimento do GIST primário
 
Normalmente aparecem através de um tumor primário, que se localiza em uma única área. Segundos estudos da organização GIST Support, os locais de maior incidência do tumor primário são: estômago (55%), duodeno e intestino (30%), esôfago (5%), reto (5%) e colon (2%), além de outros locais mais incomuns. No caso da Cléo, o tumor estava localizado bem no meio do intestino (região mesogástrica intestinal) . Nessa situação são denominados tumores localizados.

Entretanto, os GISTs podem ser bastante agressivos e com grande potencial para se espalhar para outras partes do corpo (normalmente fígado, cavidades abdominais e, mais raramente, linfonodos), formando novos tumores em outros locais diferentes de sua origem, sendo classificado como um tumor metastático. Esse é o nosso caso, infelizmente. (Fonte: GIST Support)

Por isso, a partir do momento do dignóstico e da identificação do GIST, toda e qualquer providência que tomaremos, será com o objetivo de inibir e controlar o desenvolvimento das células cancerígenas que a Cléo mantém em seu organismo.

Juntamente com a Oncologista, Dra Renata Sobral, da Clinica Oncocane, que passou a acompanhar a Cléo a partir dai, e o Dr Gabriel Seabra, do Centro de Saude Animal Zoovet, que é o clinico geral da Cléo, vamos pesquisar e analisar as principais opções de tratamentos indicadas para este tipo de câncer.

As dúvidas são muitas e, juntamente com elas, os receios. A Cléo é uma jovem senhora, com um quadro de displasia coxofemural grave, algumas lesões na coluna... portanto, qualquer que seja a decisão, deve ser tomada com muita cautela. É preciso avaliar bem as opções, os prós e os contras de cada uma delas e pensar, acima de tudo, no bem-estar da minha filhota.

Seja qual for a decisão, tenho certeza de que a minha pequena guerreira vai lutar com unhas e dentes pelo tempo que lhe restar... irá aproveitá-lo segundo por segundo, pois ela sabe muito bem como fazer isso...e vem me ensinando a cada dia...

Larissa Rios