terça-feira, 9 de abril de 2013

Peregrina de 4 Patas


Cléo: Tudo bem, Tia Dalila, antes de tudo, me conta um pouquinho sobre a sua matilha...digo, família...quem são os integrantes?

Dalila: Oi Cléo, tudo maravilhoso. Nossa matilha/família é constituída de três lindos anjos peludinhos que me tiram da rotina diariamente, me proporcionam momentos de descontração e relaxamento, alem de receberem o “papai” todos os dias balançando o corpo não a cauda. São eles: Pepper a mais velha e professora dos demais, com 8 anos, da raça Border Collie, depois vem a Pet que é minha cão terapeuta com 5 anos, uma linda SRD e por ultimo, o Tiquinho um muleke muito carinhoso, com 1 ano e 5 meses, ele é um daqueles príncipes SRD.

 
Dalila e sua matilha
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Cléo: Sei que você costuma viajar com eles....pra onde já foram?

Dalila: Sim viajamos juntos sempre que é possível, quando não ficam na casa da “vovó” J. A Pepper por praticar agility viaja mais vezes para as competições, sempre que possível Pet e Tiquinho vão torcer pela irmãzona. Nossos roteiros são campo, praia e cidades históricas.

Cléo: Ah, Tia, ouvi falar que a Pepper já te acompanhou numa tal de “peregrinação”. E verdade??!! Como é isso??

Dalila: Cléo, sempre sonhei em fazer o Caminho de Santiago. Quanto a Pepper chegou queria que ela fosse comigo, mas o “papai” dela não deixou, ele não aprova viajar com animais em aviões, como ele viaja muito a serviço, sabe que para os humanos o avião já é desconfortável, imagina para ela que tem que viajar em um compartimento onde não poderá ver ou sentir as pessoas que a protegem. Então comecei a fazer romarias e leva-la, foram três romarias como aquecimento e depois o Caminho do Sol.

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Cléo: Hummm...e porque outros cães não participaram?

Dalila: Na verdade Cléo acho que nenhum outro dono de cão pensou em fazer peregrinação em companhia de seu peludo. Por isso só a Pepper foi. Espero que depois desta nossa experiência, outros pensem e planejem bem, digo bem, por que é necessário um bom preparo, não só físico como de estrutura e acompanhamento. É necessário levantar todos os riscos que podem ocorrer quando se tem um companheiro que difere dos demais, a situação é totalmente diferente. A atenção, respeito e cuidados são redobrados.

Cléo: Me conta como foram os preparativos para essa viagem?

Dalila: Inicialmente pesquisei os caminhos que eu conseguiria iniciar e terminar, pois a Pepper com certeza faria com as patas nas costas J. Depois de definido qual caminho iria realizar, contatei os organizadores para saber como deveria proceder levando a Pepper. Isso há dois anos, pois sempre recebia desculpas de que os pousos não aceitam cães, que os demais peregrinos se incomodam em dividir os pousos com um cão, os dormitórios são conjuntos. Mas com o passar dos anos e a maior aceitação de cães em hotéis, restaurantes, shoppings e espaços comum, consegui convencer os organizadores a deixar a Pepper participar. Não posso deixar de citar que o Portal contribuiu muito para que hoje nossos peludos possam ter maior participação junto a nós.

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Cléo: E, o fato de levar a Pepper com você, causou algum problema?

Dalila: Sim, no inicio os pousos relutaram em aceitar um cão, um deles não abriu precedentes, foi o único dia que nos separamos dos demais peregrinos. Depois precisamos aguardar um grupo que aceitasse realizar o caminho na companhia de um cão. E por ultimo os organizadores estavam muito preocupados, no caminho há muitos cães soltos.

Cléo: E o que os outros “peregrinos humanos” acharam de ter a companhia de uma “peregrina de 4 patas”?

Dalila: Não preciso disser que a Pepper foi o centro de tudo e todos. Na noite que antecede ao inicio do Caminho, há uma reunião onde os peregrinos recebem as credencias, o colar símbolo do caminho e orientações, já neste momento a Pepper recebeu petiscos enviados pela esposa de um dos peregrinos, não preciso disser que eles são amantes de cães. Depois a cada pouso que chegávamos todos aguardavam ansiosos para conhecer o cão que acompanhava aquele grupo. Sobre os peregrinos do grupo, sem comentário, todos muito amáveis e solícitos.

Cléo: Ahhhh, tô adorando!!! Conta mais sobre essa jornada?? Quem sabe consigo convencer a minha mamys a ir também....

Cléo: Como a Pepper se comportou?

Dalila: Devo disser que ela foi uma lady selvagem J. Fez o caminho buscando sempre um acesso aos rios que atravessavam o caminho, afinal foram 11 dias de jornada, com temperatura que variaram de 6 °C a 35°C. Adorava caminhar acompanhando o peregrino que a presenteou com petisco no primeiro dia. Uma companheirona.

 
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Cléo: Foi preciso algum preparo fisíco especial antes da Pepper encarar essa caminhada?

Dalila: Cléo, a Pepper é como você um cão autleta. Alem de te acompanhar na maioria dos eventos do Portal, Ela pratica agility e caminha por uma hora de três a quatro vezes por semana . Sempre brinco com ela jogando bola ou frisbee para ela correr e pegar, ela não gosta de ficar parada, é ligada no 220, coisa da raça.

Cléo: Quais foram os cuidados que você teve com ela durante o percurso?

Dalila: Devido o caminho ser na maioria percorrido em área rural, o numero de cães soltos nas propriedades é enorme, sem contar os que vivem pelas ruas das cidades que cruzam o caminho. Minha preocupação era que ela fosse aceita pelos cães por onde passávamos. Como tenho um pouco de experiência com cães sempre me antecipava me impondo como líder da matilha, assim os demais cães se aproximavam faziam o reconhecimento canino como você sabe, assim todos tomavam seu curso.

Cléo: E o que a Pepper levou na bagagem?

Dalila: Este foi o tópico que mais me preocupei. Inicialmente porque eu quem teria que carregar o peso extra. Imagine que o peso da tua mochila para longas caminhadas não pode exceder a 10% do teu peso. Minha mochila deveria pesar 6 kilos, a minha tinha 11 kilos, pois tinha a ração , tapetinho onde ela dorme, toalha, sapatinhos caso tivesse que caminhar em solo muito quente ou que fosse prejudicar as almofadinhas dela, capa de chuva, petisco, estojo de primeiro socorros, medicamentos e muita água, devido não possuir moradias pelo percurso tínhamos que nos abastecer de água para podermos cruzar cada etapa. Levava água para beber e para poder esfriar o corpo da Pepper na ausência de rios ou riachos.

Agora tia Dalila, quero trocar alguns latidos com a Pepper...

Cléo: Pepper, tô morrendo de invejaaaaaaaaaaaaa...me conta, o que você achou dessa “Auventura”?

Pepper: Cléo você sabe que quando estamos com nossos donos tudo é maravilhoso, eles pensam muito em nós, buscam sempre o melhor, audoro muito ser uma cachorra aventureira. Adorei conhecer humanos que compartilham com minha dona o amor e carinho aos animais.

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Cléo: Do que você mais gostou durante o percurso?

Pepper: Além da companhia de minha dona e dos demais peregrinos adorei os rios, havia muitos rios atravessando o caminho, pude me refrescar e brincar. Cléo...esse caminho é do Sol mesmo, muuiiito quente.

Cléo: E o que você menos gostou?

Pepper: Na verdade não havia nada de que eu não gostasse, fui carinhosamente tratada pelos peregrinos, era sempre a atenção entre eles, quando chegava aos pousos todos ficavam ansiosos em me conhecer, pois a noticia de que havia um cão entre os peregrinos aguçou a curiosidade de todos. O que pegava mesmo era os dias de muito Sol quando saiamos mais tarde, mas nada como um riozinho para esquecer o calor insuportável.

Cléo: Você encontrou algum outro “peregrino de 4 patas” no caminho?

Pepper: Cãogrino mesmo não. Eu fui praticamente a primeira cãogrina a realizar o caminho. Digo praticamente porque soube que há alguns anos uma família fez este caminho com o cão deles, mas com carro de apoio. Sei que sou a primeira cãogrina que recebeu a Credencial, Colar símbolo do caminho e Aras Solis, certificado de realização do Caminho do Sol.

Cléo: Você já fez outras peregrinações, né?

Pepper: Sim, antes desta peregrinação fiz três romarias, de Aruja a Aparecida.

Cléo: Então, me conta um pouquinho sobre suas experiências anteriores....

Pepper: Romaria é diferente de Peregrinação. Na Romaria minha dona vai em cima de um animal enorme de quatro patas, é bem gostoso também, posso correr mais pois o grande animal de quatro patas anda mais rápido e eu fico mais livre para ir e voltar para onde quero. Inclusive na primeira Romaria por desconhecer os locais acabei correndo e saltitando de tanta alegria por um pasto, que acabei caindo dentro de um poço, ainda bem que sabia nadar, fui resgatada com certo sufoco pois o danado do poço era fundo.

Cléo: De qual você gostou mais?

Pepper: Sabe Cléo, são situações diferentes, ambas tem seus sabores. Acredito que peregrinar é se descobrir, saber quais são seus limites e espaços. O desconhecido surge com mais frequência, auauauau fui muito fundo heim. Na Romaria embora a distancia seja longa, o período é mais curto, o que nos leva a dividir menos as experiências e sentimentos.

Uauu, isso é que eu chamo de um cachorro ativo...você é “das minhas” mesmo hehe...Parabéns, Pepper!!!
Mas, deixa em tirar mais uma dúvidas com a Tia Dalila..

Cléo: Tia, você pretende continuar fazendo essas jornadas com a Pepper? Já está planejando a próxima? Fiquei interessadíssima....ahahahaha

Dalila: Oi Cléo, espero que sim. Agora que já me preparei irei fazer o Caminho de Santiago, estarei por lá nos meses de Maio e Junho. Quando retornar quero fazer o Caminho dos Anjos, se tudo correr bem a Pepper será novamente minha cãopanheira.

Junto com os “Peregrinos Humanos”
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Cléo: Para você, quais as principais diferenças na sua experiência em peregrinações - antes da Pepper e depois da Pepper?

Dalila: Cléo, foi uma experiência muito rica fazer esta peregrinação com ela. Aprendi muito, especialmente a observar e entender os limites de todos, independente de ser um humano ou um animal. Com ela pude sentir a diferença de fazer algo que você quer , e algo que você impõe. A Pepper estava lá imposta por mim, e em momento algum ela deixou de realizar o meu desejo. Houve um momento em que me perguntei, o que estou fazendo aqui? Olhei para ela e pensei, se estou me questionando sobre isso, imagine ela. Nessa hora a tomei nos braços, dei um forte abraço e agradeci a Deus por dela comigo num momento tão especial, a partir deste momento o caminho pareceu mais leve. Há coisas que não sabemos como explicar, essa foi uma delas.

Cléo: E quais conselhos você daria para as pessoas que querem seguir o seu exemplo?

Dalila: Respeitar tudo e todos quando você deseja realizar algo. Se for algo muito diferente a atenção e busca por informações deve ser redobrada. Entendo que assim abrimos oportunidades para que outros possam realizar o mesmo sonho, quem sabe melhor. Outro quesito que foi muito importante, é ter boa base de conhecimento e treinamento com o comportamento dos cães. Auxiliou muito a controlar as situações dos encontros e reconhecimentos, evitando acidentes e maiores stress. Tenho para mim que, você deve realizar tudo o que você deseja, desde que não prejudique algo ou alguém. Cuidado com a saúde, tanto do cão como tua, é primordial. Agora o mais importante, teu cão tem que ser bem ligado a você, alem de muito obediente.

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Valeu, Tia Dalila e Pepper!!! Com certeza vocês são um grande exemplo....viu, mamys??? E ai, vamos peregrinar, matilha??!!!