domingo, 15 de março de 2009

BASTA!!!!!

Agora chega!!!!
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Imagine-se trancafiado num cubículo tão pequeno que mal conseguiria abrir os braços. Ou imagine-se numa saleta tão lotada, mas tão lotada de pessoas que, se você tirasse o seu pé do chão por um segundo já não conseguiria colocá-lo de volta no mesmo lugar (ou pior, em lugar algum....teria sustentá-lo no ar ou quem sabe pisar o próximo). Imagine-se sem água e sem comida durante horas, dias seguidos. Imagine-se desprotegido sob um frio de rachar. Imagine-se desprotegido em baixo de chuva, sem ter para onde correr. Imagine-se sufocado pelo calor, sem direito a buscar por uma brisa sequer. Imagine-se vindo ao mundo, totalmente sem referências pois sequer teve a chance de registrar a face da sua progenitora antes que lhe levassem embora, sabe-se lá para onde. Imaginou?? Consegue descrever como se sentiria???

Pois eu sim, imagino. Imagino que por mais que você se esforce, nunca conseguirá sentir com a mesma intensidade daquele que passa por tudo isso.
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Papagaios: filhotes arrancados dos ninhos e transportados em caixas
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Estou falando dos milhares e milhares de animais silvestres que, muitas vezes, são retirados de suas mamães ainda bebês (muitos até mesmo antes de nascer, quando ainda são apenas ovinhos). Animais, filhotes ou adultos, que são arrancados dos seus habitats naturais. Que são confinados em gaiolas minúsculas onde mal conseguem se mover, gaiolas super lotadas, caixas totalmente lacradas onde respirar é quase um milagre. Seres vivos que, como você que está lendo esse texto, têm necessidades e sentimentos. Necessitam de água, alimento, carinho....liberdade. Sentem frio, calor, medo, dor...Vítimas de monstros que não hesitam em torturá-los em troca de dinheiro....Vítimas do tráfico ilegal de animais.

Esta semana, aqui no Brasil, a Polícia Federal desarticulou uma quadrilha especializada neste tipo de crime. Mais de 70 pessoas, dentre brasileiros e estrangeiros, até PMs (Policiais Militares) e uma “senhora”de 68 anos, foram presas. O grupo, considerado uma das maiores quadrilhas internacionais do tráfico de animais silvestres, vendia espécies em extinção para o Rio de Janeiro e para países da Europa. Segundo a polícia, cerca de 500 mil (meio milhão!!!) de animais eram comercializados em feiras cariocas e exportados para exterior todos o anos.

Mas isso não é de hoje. Esse mal que ameaça a nossa fauna, já existe há muito tempo. É verdade que a coisa está ficando cada vez pior e, talvez por isso, as autoridades tenham decidido acordar e combater esses marginais. Na minha humilde e canina opinião, eles deveriam ser igualmente trancafiados em um local nas mesmas proporções a que submetem esses animais....durante tempo indeterminado...melhor, infinitamente. Mas como sei que isso não é possível, resta rezar para que pelo menos paguem da forma mais justa possível pelos crimes que cometeram. E que sirva de exemplo para os demais.

Mas eles não são os únicos culpados não, viu? Cada um dos humanos e todos os humanos têm a sua parcela de culpa. São culpados porque cedem à vaidade e adquirem um exemplar que ninguém tem só para manter ali, exposto como se fosse uma obra de arte (e, na verdade, é. Mas é uma obra de arte da natureza e é nela que deve permanecer!). São culpados porque vêm um amigo, um parente ou um vizinho colaborar com esse crime e não o repreendem. São culpados porque vêm os animais serem comercializados nas feiras ou mesmo nas esquinas e não denunciam (isso serve também para cães, gatos e quaisquer outros animais vendidos ilegalmente!!).
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Pássaros: é assim que eles são expostos nas "prateleiras"das feiras
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O Brasil já responde por 15% do trafico de animais em todo o mundo. É um negócio bilionário. O esquema segue a mesma linha do tráfico de drogas. O transporte é feito por “mulas”- pessoas contratadas para levar os animais para fora do país. Como no narcotráfico, esse tipo de crime também conta com a conivência de empregados de empresas aéreas, funcionários da imigração e de outros departamentos que fiscalizam (ou deveriam fiscalizar) cargas em portos e aeroportos brasileiros. E nas estradas também.

A captura destes animais geralmente acontece em reservas naturais e lugares onde há grande biodiversidade: como a região Norte, o Pantanal e o Nordeste — regiões pobres do ponto vista sócio-econômico. As principais áreas de captura estão nos estados do Maranhão, Bahia, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Minas Gerais e região amazônica. Depois, o animal passa por vários intermediários até chegar aos grandes comerciantes que ficam no eixo Rio - São Paulo.

O simples fato de serem capturados já resulta em muito sofrimento. Dentro do alçapão armado, o animal de debate. Se joga contra as grades da gaiola, em vão. Ele não mais escapará, não mais será livre. Doravante, a prisão... a gaiola será sua moradia. O vôo será trocado por monótonos pulos de um lado a outro, dia a dia – por toda a vida. Muitas vezes, não somente o animal capturado sofre; seu filhote continuará no ninho, piando... chamando... esperando, pelo pai, pela mãe, pelo alimento que não mais virá.

Com se isso não fosse suficiente, ainda há o transporte. Normalmente, os animais, principalmente as aves, vêm socados dentro de caixas de sapato e malas onde permanecem por horas a fio sem água e quase sem ar. A cada dez animais capturados, apenas um chega vivo ao destino final, por conta da tortura e dos maus tratos que sempre fazem parte da viagem criminosa. A crueldade dos traficantes é inacreditável. Para que não façam barulho, os papagaios, por exemplo, podem ser sedados com altas doses de tranqüilizantes (muitos ficam com problemas neurológicos) e escondidos dentro de tubos de PVC. As aves podem ainda ter as penas e as asas cortadas. As cobras são presas em meias de nylon e amarradas na cintura ou no tornozelo de quem as transporta. Para driblarem a angústia, o medo e a agitação do animal os traficantes praticam todo tipo de crueldade, como a mutilação, cegueira, administração de bebidas alcoólicas, etc. Muitos destes animais provavelmente não terão condições de voltar ao seu ambiente natural e sofrerão sequelas psicológicas graves.
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Macacos: eles também são alvos
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Os animais capturados podem ser utilizados nas indústrias química e farmacêutica, para pesquisas de novos medicamentos – a biopirataria, usados na medicina tradicional e também para colecionadores particulares e pet shops.

Nestes últimos casos, o que acontece muitas vezes é que a maior parte das pessoas que adquirem animais silvestres para criar em casa enfrentam uma série de problemas. Algumas acreditam estar protegendo os animais sem levar em consideração todo o sofrimento e estresse pelo qual o animal passa. Ao perceberem o trabalho e cuidados especiais que estes animais exigem, além da dificuldade em mantê-los, as pessoas acabam se livrando dos animais. A consequëncia disso é que, ao serem retirados dos seus habitats naturais e mantidos em cativeiro os animais perdem a capacidade de caçar o seu alimento, de se defender dos predadores ou de se proteger de situações adversas. Se forem libertados, mesmo que em locais propícios, dificilmente sobreviverão.

Mas, nada disso parece ter importância. Para os traficantes, o nosso animal silvestre não passa de uma mercadoria e a natureza, nossos campos e matas, um grande estoque. É só chegar na prateleira e escolher o produto! E, quanto mais raro for o animal, maior é o valor que ele atinge no mercado. Conseqüentemente, mais ameaçado ele se torna porque é o mais procurado.

Acontece que “a fábrica”, um dia (não tão distante), pode falir. As “matérias primas” estão cada vez mais escassas... para ser mais clara: a cada dia de ação do tráfico de animais, mais espécies entram em perigo de extinção. Por isso, é preciso que a sociedade acorde e as autoridades reajam!
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Atrás das grades: eles não deveriam estar aí...não eles
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Felizmente, parece que isso está começando a mudar. A Lei de Crimes Ambientais, criada em fevereiro de 1998, considera os animais, seus ninhos, abrigos e criadouros naturais, propriedade do Estado. Desta forma, a compra, a venda, a criação ou qualquer outro negócio envolvendo animais silvestres é crime inafiançável.

Até o momento, a lei prevê pena de seis meses a um ano, além de multa que pode variar de R$ 500 a R$ 5 mil. Como a pena máxima de detenção não excede dois anos, a infração pode ser comutada por multa ou serviços à comunidade.

Em breve, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) deve enviar ao Congresso um projeto de lei para equiparar o tráfico de animais silvestres ao tráfico de armas e drogas. Desta forma, o sujeito que pega mil pássaros e envia para a Alemanha, por exemplo, terá de cumprir penas equivalentes aos crimes de tráfico de armas e drogas. O tráfico de armas é punido com 4 a 12 anos de prisão e o de drogas com 5 a 15 anos de reclusão. A proposta já está na Casa Civil e pode chegar ao legislativo dentro de um mês.

Para que esses “brasileirinhos” não sejam mais torturados, é preciso que o mundo saiba que a vida não está à venda.

Você, que provavelmente tem um cão, sabe da alegria que o seu peludo expressa apenas ao ouvir a pronúncia da palavra “passear”. Sabe como nós, caninos, podemos ficar tristes ou mesmo deprimidos se não temos o nosso passeio diário, o nosso momento de liberdade...Eu mesma reivindico todas as manhãs da minha dona. Ela já tem anotada na agenda dela ”Primeiro compromisso do dia: passear com a Cléo”. Quando ela esquece ou se atrasa, eu trato logo de lembrá-la...rssss.

Agora imagine, se um animal com milhares de anos de domesticação, como os cães, ainda se sente mais feliz livre do que dentro de um apartamento ou de uma casa... E quanto ao pássaro - que em vez de voar, pasará toda a sua vida em uma gaiola? E os papagaios que serão acorrentados? E as araras que terão as suas asas cortadas? E as cobras que viverão dentro de aquários? Será esta a melhor vida para eles? Imagine, como eles se sentirão.....
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Denúncia: uma das armas contra o tráfico
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Pausa para Estatísticas (O meu Blog comprova os dados)

Valor X fins dos animais silvestres

Animais de estimação
Nome comum Valor em US$/unidade
Jibóia 800 a 1.500
Tartaruga 350
Arara-vermelha 3.000
Tucano-toco 2.000

Animais para coleção
Nome comum Valor em US$/unidade
Arara-azul-de-lear 60.000
Papagaio-de-cara-roxa 6.000
Mico-leão-dourado 20.000
Jaguatirica 10.000


Animais para fins científicos
Nome comum Valor em US$
Jararaca-ilhoa 20.000 (por unidade)
Cascavel 1.400 (por unidade)
Surucucu-pico-de-jaca 3.200 (por unidade)
Coral-verdadeira 31.300 (por grama de veneno)

Animais mais procurados pelo tráfico:
Papagaio-de-cara-roxa
Arara Canindé
Arara-vermelha
Corrupião
Curió
Tie-sangue
Saíra-sete-cores
Tucano
Mico-leão-dourado
Macaco-prego
Jaguatirica

Animais para colecionadores particulares e zoológicos:
este talvez seja o mais cruel dos tipos de tráfico da vida selvagem, pois ele prioriza principalmente as espécies mais ameaçadas de extinção. Quanto mais raro for o animal, quanto mais ameaçado, ou quanto menos exemplares existir na natureza, maior é o seu valor de mercado. Exemplos: Arara Azul de Lear, Arara Canindé (azul/amarela), Papagaio Cara Roxa, Mico Leão Dourado e Jaguatirica

Animais para fins científicos:
neste grupo encontram-se as espécies que fornecem a química base para a pesquisa e produção de medicamentos. É um grupo que percebeu as facilidades no país e por isso mesmo aumenta a cada dia. Exemplos: Jararaca, Jararaca Ilhôa, Cascavel, Sapos Amazônicos, Aranha marrom, Outras aranhas, Besouros e Vespas

Os animais abaixo têm substâncias extraídas para serem vendidas por grama. Exemplos: Jararaca, Urutu, Surucucu, Coral, Aranha marrom, Escorpião brasileiro

Animais para pet shop's:
É a modalidade que mais incentiva o tráfico de animais silvestres no Brasil. Devido à grande procura, todas as espécies da fauna brasileira estão incluídas nessa categoria. Os preços variam de acordo com a espécie e quantidade encomendada. Exemplos: Jibóia,Tartaruga, Arara Vermelha, Tucano, Melro, Saíra e Saguí

Fonte: Renctas (Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais)


Dica da Cléo

Como posso ajudar no combate ao comércio ilegal e ao tráfico de animais?

· Não compre animais silvestres sem origem legal;
· Não compre artesanatos que possuam partes de animais silvestres (salvo se o artesanato for certificado como procedente do manejo sustentável);
· Mesmo que fique com pena do animal nas mãos do traficante, não o compre, se o fizer você somente estará incentivando o tráfico;
· Se tiver ou encontrar um animal silvestre não o solte simplesmente. Entre em contato com a unidade do IBAMA mais próxima;
· Conscientize as pessoas a não comprarem animais silvestres, nativos ou exóticos. Animal não é mercadoria. Vida não tem preço. Se não houver procura não haverá venda;
· Divulgue esta causa da forma como puder: Imprima panfletos educacionais e distribua, envie e-mails, converse com as pessoas, etc;
· Denuncie!! Chame a polícia e faça um TC (cite o Art. 32 da Lei Federal de Crimes Ambientais 9.605/98);
· Se possível, fotografe e/ou filme a captura e o alojamento dos animais, o local em que são expostos e a transação entre comprador e vendedor - provas e documentos são fundamentais para combater transgressões.

Você pode fazer uma denúncia de tráfico de animais através dos seguintes canais:
· Acesse os sites:
www.renctas.org.br, www.ibama.gov.br ou www.dpf.gov.br
· Ou ligue para o Disque Denúncia do Ibama: 0800 618080.