quinta-feira, 10 de março de 2016

Câncer Canino: juntos, podemos vencer esse bicho papão!


   "Juntas, chegaremos o mais longe que pudermos"
 
Há alguns meses atrás, notei algumas gotinhas de sangue nas fezes da Cléo. Ela não apresentava diarréia ou nenhuma outra alteração fisiológica considerável. Apenas algumas manchinhas, de um vermelho bem vivo, que insistiam em colorir o seu “número 2”.
Em uma consulta com o nosso veterinário de confiança (sim, veterinário é que nem pediatra, acaba “pertencendo” a mãe e ao filho), Dr. Gabriel  Seabra (do Centro de Saúde Animal Zoovet), pedi para que investigássemos. Exames de fezes, sangue e Ultrassonografia foram feitos e a única coisa que detectamos foi um iniciozinho de Giárdia (uma doença intestinal causada por protozoários que se alojam no intestino do animal). Ok, nada de mais. A Giárdia, desde que diagnosticada e tratada a tempo, não causa grandes danos. Seguimos com o tratamento indicado e pronto. Assim pensamos...
Mas o sangramento não desapareceu. Não se alterou – nem aumentava, nem diminuía -, mas não parou. Aquilo me deixou com uma pulga atrás da orelha e um pontinho de angustia no peito. Havia algo com a minha menina, minha voz interior dizia. Mas, em seguida, ela entrou numa fase bem difícil com a Displasia, sentia muitas dores e já não respondia mais tão bem às terapias e recursos que eu vinha tentando (transplante de células-tronco, implante de ouro, acupuntura, ozonioterapia, etc). Foquei no que me pareceu mais grave e urgente, pois ver a Cléo sofrendo com dores e sem conseguir andar direito me desesperava. Lancei mão da minha última cartada para tentar resolver de vez o seu maior problema articular e fizemos a cirurgia de denervação coxofemoral (uma técnica de raspagem dos nervos com o objetivo de eliminar ou diminuir as dores). E a cirurgia foi um sucesso (em outro post contaremos para vocês), ela teve uma rápida recuperação, passou a caminhar muito melhor e até o semblante da sua fuça mudou. Parecia outra cachorra. Mas com o mesmo sangramento de antes. Sim, aquelas gotinhas de sangue ainda teimavam em aparecer em suas fezes.
Hora de ouvir a minha intuição com mais atenção e encarar mais seriamente as pistas apresentadas. Resolvemos repetir os exames. Fezes: Negativo para quaisquer verminoses. Beleza! Sangue: tudo normal. Maravilha! Ultrassonografia: “Ai, achei uma coisa!”, disse a veterinária-ultrassonografista, ao mesmo tempo em que meu coração parou de bater. Por um milésimo de segundo, minha visão escureceu, minha respiração travou e eu pensava: “Não pode ser, olha direito!” e, ao mesmo tempo, “Ufa! Eu sabia que havia algo e agora vamos saber do que realmente se trata!”. A sensação de alivio durou pouco. Tratava-se de um tumor.
O laudo da US dizia: “Em região mesogástrica direita observa-se formação aderida a segmento intestinal, medindo aproximadamente 5,1 x 4,3 cm, heterogênea, com áreas liquidas entremadas (sugestivo de alteração neoplásica)”. Na minha leitura: Havia um tumor, de tamanho considerável, agarrado ao intestino da minha filhota. E agora?! Qual seria a gravidade? Porque não vimos isso antes, no exame anterior? O que fazer? Ela vai morrer?
Um buraco se abriu aos meus pés e me senti em queda livre.  Logo eu que sempre ouvi falar sobre o câncer como se fosse algo tão distante. Nunca tive (que eu saiba) alguém da minha família ou muito próximo a mim que fosse a cometido por essa doença. Pelo menos ninguém com quem eu tivesse uma convivência muito frequente ou intima. Eu “olhava” para o câncer como se ele fosse um ser irreal, imaginário. Mas quando “ele” bateu de frente comigo, eu descobri que, na verdade, essa era a minha forma de esconder o medo que eu tinha de algum dia ter que encará-lo. Eu tinha pânico porque achava que essa era uma guerra onde os lutadores entravam na arena já sabendo que perderiam para o monstro. É horrível, mas preciso confessar... até para mim mesma. Eu achava que ninguém se curava de um câncer. Que, os tratamentos o enfraqueciam, faziam “ele” ir e voltar  e que, uma hora, “ele” voltava com tudo e ganhava a briga.
Então, eu o “olhava” como se fosse algo distante de mim... tipo, o fantasma do Câncer... por que essa era a minha intenção... mantê-lo bem longe. Não consegui. “Ele” se impôs diante de mim e eu teria que encará-lo.
E lá vinha ela, a Cléo, me trazer mais uma enxurrada de lições. Terei que aprender a ser mais confiante e fortalecer ainda mais a minha fé. Sabe aquela conversinha de que precisamos aprender a dar mais valor às pequenas coisas da vida e viver mais o momento presente? Pois é, né conversa fiada não, viu? Quando você se vê numa situação como esta, você percebe que o melhor momento é o “agora”! Tudo depende do que você faz com o seu momento. E a gente o desperdiça tanto...
 

ENTENDENDO O CÂNCER

O câncer (Neoplasma ou Neoplasia) caracteriza-se pelo surgimento de formações (nódulos, massas ou também feridas), conhecidas como “tumores”, que crescem em volume e extensão pela proliferação descontrolada de células.
Veja, nesse vídeo, um pouquinho dessa dinâmica celular:
 

As células cancerosas perdem progressivamente as características e funções diferenciadas do tecido original. Células que antes secretavam alguma substância, já não o fazem mais. Outras que eram responsáveis por absorver ou transportar ou mesmo dar estrutura de sustentação ao órgão ou tecido, já não são mais capazes de atuar organizadamente. É um verdadeiro caos celular!
Alguns tumores podem preservar alguma função e alguns aspectos morfológicos (forma/estrutura) do tecido original, mas são poucos. Da mesma forma, o crescimento rápido não é característica de todos os tumores, sendo que alguns tipos apresentam crescimento indolente, lento.
 
Os diagnósticos são feitos através de exames citológicos e histológicos (biópsia, hispatológico) e identificam a classificação dos tumores, que podem ser malignos ou benignos.

Os Fibromas, lipomas e adenomas são benignos; os sarcomas e carcinomas são malignos.
Os tumores malignos apresentam maior anaplasia (indiferenciação), são mais invasivos, tem a capacidade de fazer metástase (transferir-se para outros tecidos através do sangue e da linfa) e também uma grande atividade mitótica (processo de divisão celular).
As neoplasias malignas podem exercer pressão nos tecidos vizinhos normais, causando dor, interrupção da irrigação vascular, bloqueio dos vasos linfáticos e diminuição de função dos órgãos, levando o paciente à obito.
Os sintomas do câncer estão relacionados ao tipo e localização do tumor, mas, de forma geral os principais sinais da doença podem ser: nódulos palpáveis e aparentes, aumento de volume abdominal (massas abdominais), dificuldade para respirar (massas ou acúmulo de líquido em tórax); tosses persistentes; feridas que não cicatrizam; perda de peso e de apetite sem causa aparente; dores crônicas; anemias crônicas; diarréias prolongadas, desidratação, febre, dificuldade para comer, engolir ou defecar ou ainda, sangramento espontâneo por orifícios naturais.
São diversos os tipos de câncer que se dividem em neoplasias orais, oculares, genitais, gastrointestinais (no caso da Cléo) e, os principais que acometem cães e gatos: Cutâneos, sendo que os cães apresentam uma alta incidência de mastocitomas (tumor de mastócitos) e os gatos (normalmente animais despigmentados) de carcinomas espinocelulares; mamários (que acomete um numero assustador de cadelas não castradas, mas também pode atingir os machos); e os Hematopoiéticos (linfomas e leucemias).

Infelizmente, o câncer é uma doença que tem sido cada vez mais comum entre os cães. Usualmente a doença ocorre em animais mais velhos (acima dos 10 anos de idade), porque a maioria dos tumores são consequências de alterações genéticas (mutações) que são adquiridas ao longo da vida.

Portanto, a maior longevidade dos nossos animais pode ser uma das explicações. Até o final da década de 90 os cães viviam, em média, de oito a 10 anos e, hoje, já chegam ou ultrapassam os 12 anos. O que faz com que surjam, mais frequentemente, doenças que são comuns ao homem, acometidas pela velhice.
Não há uma causa única para o surgimento do câncer no organismo. Normalmente, é uma junção de fatores que encontram terreno fértil para o desenvolvimento da doença. Quando as causas são genéticas, doenças pré-existentes ou um desequilíbrio hormonal, às vezes foge à nossa capacidade de protegê-los. Até mesmo um vírus, com potencial de induzir tumores, pode desencadear a doença. E ainda há muitos efeitos carcinógenos desconhecidos.
Mas a qualidade da alimentação, exposição a substâncias químicas (como o cigarro, por exemplo) e até mesmo traumas e estresse, são fatores sob os quais temos responsabilidade e podemos controlar.
 
Para tentarmos proteger nossos mascotes desse mal, devemos observar as condições e o estilo de vida que os proporcionamos. Tomar cuidado com o sol (por causa do câncer de pele), evitar a obesidade, não fumar próximo ao animal (está provado que ele acaba sendo um fumante passivo), praticar atividades físicas, castração (especialmente no caso das fêmeas) e alimentação de boa qualidade são alguns dos cuidados que podem salvar as vidas dos nossos animais. Ah, e faça consultas e exames periódicos de check-up; já que  uma doença desse tipo pode acabar sendo descoberta em um exame rotineiro, abrindo espaço para que um tratamento seja iniciado de forma imediata.
Hoje, a oncologia veterinária é uma das especialidades em destaque e uma das de maior número de atendimento em clínicas e hospitais veterinários.
 
 
O tratamento oncológico tradicional, normalmente, baseia-se na cirurgia, quimioterapia e radioterapia.

A cirurgia é considerada a principal abordagem (aproximadamente 70% dos casos) no tratamento dos tumores sólidos (aqueles que formam nódulos e massas). É extremamente recomendável que o cirurgião seja um profissional habilitado para realização das técnicas de exérese (extirpação) e reparação (plástica) do paciente.

Em alguns casos, a cirurgia é realizada como tratamento único, porém, existem outras situações em que a possibilidade de disseminação do câncer para outros órgãos (disseminação metastática). Nestes casos, a quimioterapia fica indicada como tratamento complementar, visando melhor controle da doença e o aumento da sobrevida do paciente.-

Para os casos de tumores hematopoiéticos (linfomas, leucemias, mielomas) , tumores venéreos transmissíveis em cães (TVT) e/ou cânceres avançados (sem possibilidade de cura) – a quimioterapia é a principal terapia de eleição. E, embora exista inicialmente uma certa apreensão relacionada aos efeitos colaterais que o tratamento quimioterápico possa desencadear, na prática vem se observando que os efeitos em cães e gatos são muito mais sutis e melhor tolerados pelos animais do que por pessoas submetidas ao mesmo tratamento.

A radioterapia, embora não muito utilizada no Brasil, pode ser particularmente útil como tratamento adjuvante após a cirurgia, tumores de crâneo ou ainda como terapia paliativa para tumores inoperáveis.
Embora a oncologia veterinária seja uma especialidade que ofereça opções diversas para o tratamento do câncer em cães e gatos, vale salientar que a melhor e mais efetiva forma de tratar o câncer é diagnosticá-lo precocemente para que as chances de cura sejam maiores. Portanto, cuidem muito bem dos seus precisos amiguinhos e fiquem atentos a quaisquer sinais de que algo não vai bem. Procure, imediatamente o seu médico veterinário de “vocês”.


Fontes:
Site da ONCOCANE e Dra Renata Sobral (www.renatasobral.com.br)

 

Bom, eu poderia questionar as razões, dizer que preferia que fosse comigo a acontecer com ela, poderia me lamentar, poderia me revoltar... Mas de que adiantaria?! Questionamentos não vão resolver a situação. Se fosse comigo, quem cuidaria dela? Revolta e lamentações só vão tornar as coisas ainda mais pesadas e doloridas.

O desafio estava ali, a um palmo da minha cara. A Cléo não fugiria se tivesse que brigar por mim. Portanto, não seria eu quem iria fugir dessa briga por ela.

Afinal, qual é o tipo de câncer dela? Qual será o tratamento escolhido? Estas e mais algumas questões, nós vamos compartilhar com vocês nos próximos posts.

O que posso adiantar é que ela está bem, feliz e cheia de energia, como sempre foi, essa guerreira. E nós vamos, junto com vocês, aprender a lidar com esse “fantasma” e tirar de mais essa lição o melhor que pudermos. Algumas coisas nós já sabemos, outras informações virão com o tempo. A única coisa certa é que, enquanto ela estiver ao meu lado, não lhe faltará amor, carinho e atenção.

Um passo de cada vez... E, juntas, chegaremos o mais longe que pudermos.

 

Larissa Rios