sábado, 11 de junho de 2016

Câncer Canino: Dieta Especial


Humm comida!!!
Eu sempre fui bem resistente à ideia da alimentação natural. “Ah, eu mal cozinho pra mim, vou cozinhar para os cachorros?!”; “Dá muito trabalho”; “Não tenho espaço na geladeira pra armazenar comida para duas Goldens Retrievers”; “Custa mais do que a ração”; “Eu viajo muito – com e sem elas--, como vou fazer para dar comida durante a viagem ou deixar no hotelzinho?!”.
Enfim, muitas eram as justificativas que eu apresentava para mim mesma e para todos que me questionavam qual a alimentação das minhas meninas e porque eu não dava AN para elas.

Aos poucos, fui ficando cada vez mais rodeada de tutores que decidiram mudar a alimentação dos seus mascotes e foram abandonando a ração. E eu ia ouvindo os seus relatos sobre as melhoras apresentadas em um curto espaço de tempo. De controle de peso a problemas de pele, passando por outros diagnósticos que foram aparecendo.

Ok. Senti uma pitadinha de curiosidade. Porque não experimentar?!

No mínimo, as meninas vão se lambuzar e agradecer pelo agradinho ao paladar.

Então, comecei a introduzir a AN na dieta delas, aos pouquinhos... uma das refeições diárias, pelo menos (elas comem 3 vezes ao dia). Pesquisei bastante a respeito, li muitos sites especializados e conversei com outros tutores que já haviam ingressado nessa tendência. Porque, se era para fazer, que fosse bem feito.

E, de fato, elas amaram! E eu, confesso, senti uma satisfação imensa de ver o prazer com que elas comiam.

Meninas à espera do jantar

 

Menu preparado em casa

Mas, ainda assim, não foi o suficiente para me manter na rotina de chef canina... Com o passar dos dias, a correria de ir atrás de ingredientes, dedicar horas no fogão, armazenar tudo no meu pequeno congelador... ufa. Desestimulei e voltei pra ração.  
Até que veio o chacoalhão do diagnóstico de câncer da Cléo. Era preciso fazer algo para ajudá-la. E eu estava disposta a tudo!  

Para quem não acompanhou desde o começo, nós já falamos aqui sobre o que é o Câncer, como ele atinge nossos mascotes, como prevenir, como diagnosticar, quais os sentimentos que tomam conta de nós quando recebemos a notícia, etc. Podem ler ou reler tudo isso nos posts Câncer Canino: Juntos podemos vencer esse bicho papão”, “Câncer Canino: Diagnóstico” e “Câncer Canino: Tratamento, uma batalha em equipe

Bom, diante da decisão de não a submetê-la a quimioterapia, eu assumi o compromisso de proporcioná-la a melhor qualidade de vida possível. E uma das formas de conseguir isso, seria através da alimentação. Sim, a alimentação não somente faria parte do protocolo de tratamento definido por mim e pelos profissionais que acompanham a Cléo, como seria o alicerce de tudo.




RAÇÃO X ALIMENTAÇÃO NATURAL

É verdade que alimentar o pet com ração seca é bem mais prático. Mas isso está bem distante da dieta ancestral canina e felina: naturalmente úmida variada, pobre em carboidratos e predominantemente carnívora. Na natureza, predadores consomem uma ampla variedade de espécies de presas, além de ovos, gramíneas, tubérculos e frutas.
Por maior que seja a qualidade anunciada da ração, ainda assim é um alimento industrializado, processado. Se formos pesquisar a fundo o impacto que a comida processada tem no nosso organismo, ficaríamos chocados. Imagine, então, no organismo dos nossos animais. É uma oportunidade para nos questionarmos: porque o meu cachorro come ração e não come carne, legumes e grãos, como eu?
Se dermos uma olhadinha com atenção no rótulo das rações, vamos encontrar uma grande quantidade de vitaminas, aminoácidos (derivados protéicos) e de sais minerais como ferro, zinco, fósforo entre outros que são adicionados ao alimento.
Por que de tanto complemento nesse alimento?!
Simplesmente porque a indústria de rações utiliza ingredientes de baixo custo e, consequentemente, de baixa qualidade. Isso faz com que se torne necessária a adição de uma quantidade quase infindável de compostos quimicos.

Outra questão, no mínimo curiosa, é a durabilidade. Como é possível fazer com que uma ração dure um ano ou mais? Isso só é possível devido à utilização de grandes quantidades de conservantes (BHT e BHA), que hoje são considerados vilões na alimentação humana e inclusive vêm sendo estudados como possíveis responsáveis por diversas alterações celulares (câncer).
Aditivos sintéticos, como corantes, responsáveis por dar as cores dos grãos de ração, representam as PRINCIPAIS causas de alergias em humanos e animais.
E, por último, os palatabilizantes sintéticos, conservantes e outros componenentes químicos e elementos transgênicos.
E por estas e outras razões, que a indústria de rações vem perdendo um espaço considerável para a alimentação natural nos países europeus e norte-americanos (na Califórnia, EUA, ela já é aplicada desde os anos 70). E a coisa já começou a mudar aqui no Brasil também.
Afinal, se “nós somos o que comemos”, com nossos pets não deveria ser diferente. Os nutricionistas humanos vivem nos alertando e educando a preferir comida fresca, variada e preparada em casa, certo? Com nossos cães deveríamos agir da mesma maneira.

A dieta natural agrada, de cara, aos bichos através da variedade e do cheiro. A felicidade deles é notória ao se depararem com um belo e suculento prato de comida. Aliás, a umidade deste tipo de alimentação é um dos fatores diferenciais, já que representa 70%. Isso garante aos nossos pets, o principal nutriente para o corpo: a água. 

A comida natural também fortalece o sistema imunológico dos cães e gatos e já foi em muitos casos, a cura de algumas doenças nos animais que não conseguiam reagir a elas antes quando comendo somente ração. Como, por exemplo, alergias. O pelo do animal também fica mais bonito e brilhoso e cai menos. As fezes diminuem de volume, melhoram a textura e reduzem consideravelmente os odores. 

Estudos já comprovaram que, ao serem alimentados com uma dieta natural equilibrada, os cães ficam mais fortes e mais bem nutridos e vivem muito mais.


Veja esse vídeo do Rodney Habib, um famoso blogueiro canadense, especialista em nutrição animal, e saiba como a alimentação natural pode aumentar a longevidade e a saúde do seu animal, dentre outros benefícios:


Na verdade, os benefícios de uma alimentação natural são tantos, que fica até difícil de listá-los em um único artigo. Então, vamos focar na razão principal que me levou a adotar essa mudança na vida da Cléo.




CÂNCER X DIETA

As estatísticas atuais são assustadoras: hoje, 1 em cada 2 cães possui câncer. Pois é, essa é a doença que mais atinge nossos mascotes atualmente. E apenas 10% dos casos de câncer têm origem genética. Os restantes 90% são resultado do estilo de vida que proporcionamos aos nossos animais e de fatores externos como: estresse, obesidade, infecções, vida sedentária, poluição e toxinas e – a maior fatia – ALIMENTAÇÃO. 

Segundo estudos, cerca de 30 a 40% de todos os tipos de câncer podem ser prevenidos se adotarmos uma simples alteração na dieta dos nossos animais. (Canine Nutrigenomics)

Pois é, assim como você, o seu cachorro também é o que ele come.

Um dos maiores problemas de animais com câncer é a caquexia ou perda involuntária e progressiva de peso. Esta acentuada perda de peso, devida a alterações metabólicas da doença ou do tratamento, diminui a qualidade de vida do animal, diminui a resposta ao tratamento da doença e diminui o tempo de sobrevida do animal. Por isso, a alteração da dieta para uma alimentação natural pode também ajudar a estimular o apetite do mascote.

Além disso, instituir um plano nutricional adequado a cada enfermo e enfermidade amplia as nossas possibilidades terapêuticas, melhora os prognósticos e a sobrevida dos pacientes. 

A utilização de alimentos que apresentam componentes com propriedades e efeitos medicamentosos sobre o organismo (chamados nutracêuticos, alicamentos ou alimentos funcionais), colaboram na prevenção e no tratamento de enfermidades. A aplicação deste tipo de alimento na dieta diária do pet com câncer é citada por diversos veterinários holísticos em todo o mundo como um fator imprescindível na redução de alguns tumores, no impedimento da disseminação de outros, na desintoxicação relacionada a fatores carcinogênicos e na prevenção de outros mais. Tais alimentos também compensam desequilíbrios e desajustes alimentares através de componentes biologicamente ativos como leucotrienes, polifenóis, licopenos, antioxidantes, carotenóides e etc, além de agirem diretamente sobre a dinâmica da célula cancerígena.

Um aporte constante de alimentos ricos em compostos anticancerígenos é uma arma indispensável para combater e/ou impedir o desenvolvimento do Câncer. Assim como evitar alimentos que possam vir a nutrir as células cancerígenas também é muito importante. 

Pesquisas científicas em câncer desde a década de 90 vem demonstrando que uma nutrição baseada em baixa porcentagem de carboidratos, alta proteína e gordura de boa qualidade são as mais indicadas, pois favorecem o metabolismo do doente e não o da célula tumoral. 
Carboidratos: o vilão da dieta anticancerígena
Numa dieta anticancerígena, um dos maiores vilões é o carboidrato, pois é do açúcar proveniente destes nutrientes que as células tumorais se alimentam. A glicose constitui o principal substrato energético do tecido neoplásico em crescimento. Portanto, a estratégia de uma dieta anticancerígena consiste em forçar o tumor a utilizar outros substratos para contribuir na redução da proliferação celular. Os carboidratos mais indicados no caso do câncer são os que contêm menos açúcares ou baixos valores glicêmicos como brócolis, couve flor, couve de Bruxelas, vagens, repolhos, abobrinhas e batata yacon. Devem-se evitar batatas, batatas doces, mandiocas, abóboras e cenouras.
Apenas 20% do volume total de cada refeição ou menos, no caso dos portadores de câncer, deve estar constituído de carboidratos. 

Boas fontes de proteína animal devem ser utilizadas, como carnes e vísceras de bovinos, ovinos, suínos, aves, peixes e ovos. Alguns destes alimentos (carnes e peixes) contêm duas substâncias importantes numa dieta anticancerígena: a arginina, que, em alguns trabalhos científicos tem aparecido com efeito de retardar a progressão de tumores; e a glutamina, que também poderia ter efeitos supressores na carcinogênese e apresenta um intenso efeito imunoestimulante, indutor de uma maior imunomodulação em todo o organismo, a qual reduziria as taxas de crescimento do tumor e das metástases (Souba, 1993; Kaufmann et al.,2003). 

 Já a utilização de laticínios e seus subprodutos é contra indicada por muitos autores, em indivíduos portadores de câncer.

Diferentes compostos bioquímicos nos alimentos exercem diferentes ações sobre as células cancerígenas e os processos cancerosos:

 
Verduras crucíferas: bloqueio da ação de substâncias cancerígenas

Bloqueio da ação de substâncias cancerígenas: brócolis, repolho, alho, Ômega 3 (atum branco, sardinha, salmão, cavala pequena ou óleo de peixe e óleo de linhaça ou borragem), morango, legumes crucíferos (couve, couve de bruxelas, couve flor, couve chinesa, brócolis)

No bloqueio da promoção do desenvolvimento da célula cancerosa: cúrcuma ou açafrão-da-terra, chá verde, soja, tomate, legumes crucíferos (uvas somente para humanos!)
Frutas Vermelhas: Bloqueio da progressão da célula cancerosa
No bloqueio da progressão da célula cancerosa: mirtilo, morango, Ômega 3, cítricos, morango, frutas vermelhas, alho, alho, alecrim, tomilho, orégano, manjericão, hortelã.

Redução da angiogênese (formação de vasos sanguíneos que nutrem os tumores e facilitam as metástases): cúrcuma, gengibre, chá verde, legumes crucíferos, salsa, aipo, frutas vermelhas (morango, mirtillo, amora, framboesa)

Induz apoptose (morte celular programada) de células cancerosas: chá verde, cúrcuma, legumes crucíferos, alho, alecrim, tomilho, orégano, manjericão, hortelã; salsa, aipo, algas, frutas vermelhas (morango, mirtillo, amora, framboesa)

Nutracêuticos: agem no controle da imunidade e das inflamações
Aumentam imunidade: os cogumelos, Shiitake, Maitake, Enokitake, Cremini, Portobello, Ganoderma, Cordiceps, Agaricus

Efeito anti-inflamatório: alecrim, cúrcuma, salsa, aipo, cítricos (laranja, limão, tangerina, grapefruit ou pomelo), romã

 Fontes: Sites Cachorro Verde, Bicho Integral e Pet´s Mash

E já que eu acabei me convencendo, por todas as informações acima e mais algumas que, se eu for expor aqui esse post vai acabar virando um livro, de que a alimentação natural é mesmo a melhor opção para a saúde dos nossos animais, optei pela mudança não somente na vida da Cléo, como também da Alegria.

Mas, ATENÇÃO, para dois pontos importantes: 

1)   Toda e qualquer alteração alimentar deve ser feita gradualmente, principalmente em animais com doenças debilitantes.  
2)   Alimentação natural NÃO É RESTO DE COMIDA e nem o compartilhamento da sua dieta com o seu mascote!!

Cléo e Alegria na primeira consulta com a Dra Ana Carolina Rúbio

Antes de partir para a mudança, consulte um médico veterinário especializado que irá te orientar a oferecer uma dieta balanceada e equilibrada, baseada em ingredientes frescos e naturais, preferencialmente orgânicos, especialmente preparados para o consumo canino. E, mais que isso, especialmente elaborada para o seu animal, como indivíduo. Aqui em casa, por exemplo, a comida da Cléo é diferente da comida da Alegria, tanto em quantidade, quanto em nutrientes e suplementos. A dieta da Cléo é anticancerígena, para um animal idoso, com problemas articulares, que precisa de um controle de peso rígido. A da Alegria é para um animal jovem, esportista, cheio de energia e em crescimento.

Para quem não quer ou não pode preparar a comida em sua própria casa, hoje já existem diversas opções de empresas que oferecem no mercado um amplo leque de produtos que vão desde refeições desidratadas, passando por enlatadas e chegando às congeladas. Algumas disponibilizam receitas já prontas, para cães que não possuem nenhum problema de saúde ou restrição alimentar. Outras elaboram as dietas personalizadas, elaboradas por um veterinário nutrólogo. Num próximo post, falarei sobre as empresas de alimentação natural que já conhecemos, quais as vantagens de cada uma, quais os sites de referência sobre o assunto e, claro, contaremos como estamos nos organizando em relação às viagens, com a nova dieta.
Dieta personalizada: para as necessidades de cada cão
Conheci, na época, a empresa Pet´s Mash – Alimento natural para Cães, criada por médicos veterinários nutrólogos que oferecem um acompanhamento nutricional personalizado para atender às necessidades do seu pet. A Dra. Ana Carolina Rúbio (Veterinária nutróloga), em nossa primeira consulta, já me esclareceu tudinho sobre o que a minha filhota, Cléo, deveria ingerir para que pudéssemos manter as células cancerígenas sob controle e o que seria abolido do seu cardápio, dali por diante. E assim iniciamos a base do nosso protocolo de tratamento do câncer.

Se a alimentação natural é mais difícil de manter? Pode ser. Se o custo é mais alto do que a ração? Depende do tipo de alimentação que se for optar, dos fornecedores que escolher e do tipo de ração que fazia uso. Se dá trabalho para armazenar? Um pouco, se considerarmos que tenho duas cachorras de porte grande. Mas, considerando o que eu já gastei, em tempo, dedicação e dinheiro, para exames, cirurgia, medicações, terapias e todos os outros cuidados que a doença da Cléo tem me demandando, se eu fosse colocar tudo isso na ponta do lápis, a conta não fecharia. Se eu tivesse aberto a cabeça para esse assunto antes, com certeza já teria mudado de conduta e optado pela alimentação natural desde quando ela ainda era filhotinha. Talvez não tivesse evitado a doença, talvez sim. Mas eu estaria com uma sensação um pouco maior de “fiz a minha parte”.

Uma amiga querida, e adepta da alimentação natural para seus filhotes (com a qual eu tiro muitas dúvidas, inclusive), me disse uma coisa importante: “Cada pessoa tem o seu tempo de absorver informações novas. Você levou o seu tempo. O importante é que nunca é tarde e você fez o “seu melhor” diante do seu conhecimento e continua fazendo isso”.

Talvez, o mais importante na hora de decidirmos qual o tipo de alimentação vamos oferecer aos nossos cães, seja pensarmos com carinho se estamos de fato fazendo tudo aquilo que podemos por eles. E isso, certamente depende de muitos fatores. A resposta para essa questão não é, e nem pode ser a mesma para todos os proprietários. Mas foi a minha resposta para a Cléo. E pude mudar a história com a Alegria, que praticamente acabou de chegar.

Larissa Rios