quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Dupla Radical

Se tem algo que deixa a cachorrada maluquinha ( e aqui incluo a minha figura canina...eheheh), são as auventuras radicais. Dá pra perceber nos eventos do Turismo 4 Patas que nós, cães, adoramos estar em contato com a natureza, sentir aquele monte de cheiros diferentes, o ar puro, enfim....explorar e experimentar as sensações de trilhas, raftings, caminhadas, mergulhos e muitas outras atividades que ficam ainda mais especiais na companhia dos nossos donos.

Há algum tempo eu acompanho as aventuras de uma duplinha que é expert no assunto: Norbu e Shanti, dois exemplares da raça Cocker Spaniel Inglês.

O Norbu eu conheci em pêlo no primeiro evento realizado pelo Turismo 4 Patas – o “Workshop Viaje com o seu Pet”. Ali, ele já ensaiava algumas experiências radicais.....Depois, veio a irmãzinha, Shanti, e essa dupla ganhou as estradas ao lado dos seus donos, Elenice Dueñas e Irapuan Rodrigues nas mais diversas trilhas que fazem no sul do país.


Norbu e Shanti


Acho que já nem conseguem contabilizar os morros escalados, os rios explorados em barcos, as cachoeiras onde já mergulharam....Eu fico bobinha quando vejo as fotos e relatos que eles publicam nas redes sociais e em seu site. Mas acho que, nada melhor do que eles mesmos explicarem para agente como são essas viagens:


Cléo – Oi Tia Elenice tudo bom? Nossa fiquei muito empolgada com as aventuras do Norbu e da Shanti, como que surgiu a ideia de fazer essas aventuras com eles?

Elenice – Surgiu da vontade de integrá-los no meu modo de vida. Sou mochileira desde a adolescência. Tenho paixão por estar na estrada. Adoro viajar, conhecer novas culturas, novos lugares e estar em contato com a natureza. Sempre pratiquei esportes outdoor, então nada mais natural do que estender estas atividades sadias aos meus cães. Vivi alguns anos na Europa e me chamou muito a atenção as pessoas aproveitarem os bons momentos da vida na companhia de suas mascotes. Foi uma experiência que me trouxe a convicção de que seria possível, no dia em que eu voltasse para o Brasil, adotar esta atitude. Foi o que eu fiz em 2005, após o mochilão de três anos.


Elenice e a duplinha aventureira


Irapuan, o Pai da duplinha


Cléo – E para quais lugares vocês já foram?

Elenice - Nós já trilhamos pela região Sul e Sudeste do Brasil. Norbu tem na bagagem mais de 50 viagens e aproximadamente 80 trilhas, totalizando cerca de 30.000 Km rodados. O mochileiro canino já esteve em canyons, cachoeiras, montanhas, vales, florestas, lagos e rios espalhados pelo Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Já a irmã Shanti, tem um pouco menos de estrada do que Norbu, pois é mais nova do que ele e por ser fêmea, tem o período do cio onde entra em recesso das aventuras! Detalhes das trips você encontra em www.norbu.com.br e na nossa página do Facebook, https://www.facebook.com/Norbu.Shanti. Nós temos ainda um canal no YouTube com vídeos maneiros e colocamos eventos e novidades no Twitter, em https://twitter.com/NorbueShanti.


Cléo – Que tipo de atividades e esportes que vocês praticam juntos?
Elenice – Praticamos canoagem, rafting, SUP, trekking e hiking com Norbu e Shanti. Há alguns anos uma lesão na coluna me afastou do agility, mas era um esporte maravilhoso para eles e para mim. Em casa, eles fazem alguns exercícios de Pilates comigo e com Irapa.


Kayak



Rafting no Rio Juquiá – Juquitiba SP



Stand up paddle surfing (SUP)



Cléo – Qual a duração média das trilhas que você faz com eles?

Elenice – Depende de vários fatores. Do nível de dificuldade da trilha, do terreno, do nosso preparo físico (meu e deles) e do clima (sempre opto por temperaturas amenas, mas já pegamos muita tempestade no caminho). Hoje, podemos passar o dia caminhando, com pequenas paradas, que ao final do dia eles estarão muito mais inteiros do que a gente, mas nem sempre foi assim. Para você ter uma idéia, a primeira trilha de Norbu, com 1 ano de idade, quando ele ainda era um “filhotão”, ele caminhou 10 minutos, em uma estradinha de terra, e se atirou de barriga no chão, exausto, preparo físico zero! Tínhamos que parar, esperar ele descansar alguns minutos, hidratá-lo e só depois continuar... a trilha era por etapas! Aos poucos e com a prática, ele adquiriu resistência. De uma trilha de meia hora, ele hoje pode viajar durante semanas conosco. Não difere muito do que ocorre com nós humanos. Se você tem bons hábitos alimentares, pratica algum esporte com regularidade, não é totalmente sedentário, terá resistência para encarar desafios maiores. No entanto, toda a regra tem exceção, a mana Shanti é ligadíssima, tem uma “bateria” que não acaba, nunca vi cansar de nada. Desde pequena, corre como louca por tudo. Isto encorajou e deu mais gás ao Norbu, que sempre foi de um temperamento mais Zen e bonachão. Hoje, eles nos superam de longe no condicionamento físico, costumo dizer que eles são os verdadeiros atletas de esportes de aventura... hehe!


Cachoeira do Escorrega - Visconde de Mauá, RJ



Cléo – Já passaram por algum apuro?!! Conte um pouquinho como foi e como vocês resolveram a situação....

Elenice –O maior apuro foi no verão de 2007, perto de São Francisco de Paula e Canela, na serra gaúcha, um local bem conhecido por campistas e pessoas que gostam de trilhas ecológicas, naturalmente, longe de tudo e de todos. Neste cenário paradisíaco, Norbu foi picado por uma serpente e ficou entre a vida e a morte. Irapa, meu marido, colocou Norbu de 14kg no colo e correu 2Km em uma trilha de nível 3. Depois mais uns 10km rodando por uma estrada de terra mal conservada até a veterinária mais próxima. A nossa presença de espírito, o vigor deste cão, sua vontade de viver e a competência dos veterinários que o socorreram, este conjunto salvou a vida dele. Já o perrengue mais recente foi em julho deste ano praticando rafting em um trecho do Mambucaba, na Serra da Bocaina, no Rio de Janeiro. O bote virou com a galera. Eu e Norbu caímos muito próximos a um refluxo fechado e quase fomos engolidos por ele. Eu tentei sair por uma linha transversal ao refluxo, sem sucesso. Lancei Norbu com todas as forças na direção da margem e foi quando ele fez uma meia lua, entrou na linha d'água justo no ponto onde não apresentava mais ameaça e só daí se lançou para atravessar até terra firme. Não pensei duas vezes e segui meu cão, deu certo! Ele salvou a minha vida, pois não tinha resgate em terra neste trecho e os demais da equipe haviam sido “arrastados” rio abaixo presos sob o bote. Shanti foi a única que teve resposta super-rápida, saiu da água primeiro e ficou sobre uma rocha com olhar fixo nos observando ansiosa. Em 3 anos de rafting, foi nosso primeiro caldo. Quem pratica esportes radicais tem que estar ciente de que incidentes podem ocorrer, por mais que você se prepare, segurança total é uma ilusão.


Nadando um pouquinho



Cléo- Quais as maiores dificuldades que você e o tio Irapuan já encontraram em relação ao Norbu e a Shanti nas viagens?

Elenice – A maior dificuldade começa antes mesmo da viagem: é encontrar lugares aprazíveis que aceitem a presença de cães. Há muitos lugares que gostaríamos de levá-los, mas a entrada de cães é proibida. Outra dificuldade é a locomoção. Se você não tem um meio de transporte próprio (carro, moto, bicicleta com cesto apropriado, etc) neste País, fica muito complicado viajar com seu cão, diria que quase impossível. O sistema de transporte coletivo (ônibus, trens, aviões, etc) é arcaico no trato com os animais. Cães são considerados como carga pelas companhias de transporte, não como seres vivos que mereçam respeito. Eu só despacho meus cães por avião se estritamente necessário, pois eles não são objetos para irem com as malas. Outra coisa que nos chateia muito é a imundice em certas cidades e o número enorme de cães abandonados pelas ruas. O que parece ser cada vez maior. Estes sim, fatores de zoonoses e não os pets cuidados com zelo e higiene.


Corrida ao ar livre



Cléo – Como é a receptividade dos outros trilheiros quando encontram com vocês no caminho? Alguém já reclamou por causa da presença do Norbu e da Shanti nas trilhas?

Elenice – Em geral, é sempre positiva. Em mais de uma ocasião, encontramos pessoas em trilhas longínquas que apontaram para os cães e perguntaram entusiasmadas: ”- é o Norbu?” Ele, bem faceiro, abanou o rabo para as pessoas, pois deve ter pensado: “se sabem o meu nome, são meus amigos”.. hehe! Daí, a galera já vem acariciar os cães e contar histórias sobre seus dogs. São momentos ímpares, onde a gente fica feliz em ter plantado esta sementinha, em saber que não estamos sozinhos nessa luta em formar a opinião pública sobre a importância de dar qualidade de vida aos animais de estimação. Fora das trilhas também somos bem recebidos. Em uma ilha na Baía de Paraty, por causa dos cães, um grupo que estava em um iate nos ofereceu para sentar à mesa com eles e degustar uns camarões empanados. Todos ali tinham cães. Compartilhamos nossas histórias caninas até o pôr do sol. Já, as reações negativas são pouquíssimas, nestes quase 8 anos de aventuras lembro de três vezes ter passado por pessoas que franziram o nariz para eles e falaram coisas do tipo “cachorro não deve estar aqui”. Em outra ocasião, consegui permissão da administração de um parque em Santa Catarina, para fazer a trilha com eles na guia. No meio do caminho, encontramos um estagiário do projeto de manejo da área que não sabia de nada e veio direto dizer que não podíamos estar ali com os cães. Mostrei a autorização, mas o cara ficou inconformado. Não sei o que passa pela cabeça de uma pessoa em achar que um animal retido em uma guia possa apresentar algum tipo de perigo. Teve também um sujeito, em uma lagoa no extremo Sul do País que disse: “cães são cheios de pulgas” e eu respondi: “não julgue os cães dos outros pelos seus, nem todo mundo é irresponsável e anti-higiênico”. O sujeito saiu resmungando alguma coisa que não entendi e logo adiante amassou a lata de cerveja que carregava e soltou na areia. Há de tudo neste mundo.


Cléo – Agora tia, eu queria fazer umas perguntinhas para o Norbu e para Shanti, sabe.... para ter uma visão, digamos, mais fielmente canina...ehehehe


Cléo – Norbu como você se sente quando está fazendo trilha? E você Shanti?

Norbu – Aulá amiga Cléo! Eu me sinto muito bem em trilha. Meu coração bate mais forte, acelera e eu sinto aquele lobo adormecido dentro de mim correr pelas veias... Ok, nada de pânico, é um lobo bonzinho, só para dizer que me sinto integrado à natureza, minha energia é renovada... auuuu! Adoro guiar o “meu” grupo, verificar a trilha, contar os integrantes do grupo, indo na frente e voltando até o final pra ver se está todo mundo seguindo, se ninguém ficou para trás...

Shanti – Oi Cléo, eu já sou mais caseira. Faço as trilhas para acompanhar minha matilha, mas ficaria super bem se me deixassem dormindo no sofá da sala! O mundo é meio assustador para mim, tenho um pouco de dificuldade em lidar com as novidades, mas o meu irmão me ajuda, apesar das mordiscadas de carinho que dou nas orelhas dele e qualquer coisa que eu ache muito bizarra, corro para debaixo da “saia” da mami! Ao contrário do Norbu, eu não me organizo em trilha. Estou sempre de olho nele e nos meus pais, nunca saio de perto deles.




Cléo – Do que vocês mais gostam nessas viagens?

Norbu – Eu gosto de correr livre pelas trilhas, de sentir o vento batendo no fuço, de chafurdar no barro, de virar um croquete ambulante, de nadar em lagos, de saltar nas ondas do mar, de nadar em piscina natural com os peixinhos e de estar próximo de meus humanos de estimação.

Shanti – Eu também gosto de correr livre em trilha e de estar grudada nos meus humanos de estimação. Gosto de andar de caiaque, mas de preferência sem me molhar...


Cléo – E do que vocês menos gostam?

Norbu – Eu gosto de tudo, não há o que eu não goste!

Shanti – Eu não gosto de me molhar, apesar de ser uma exímia nadadora. Eu não gosto de sujar minhas patinhas na lama. Eu não gosto de pegar carrapicho no pelo, quando isso acontece eu fico enlouquecida até conseguir tirar tudo. Eu não gosto de lugares novos, pois o desconhecido me causa medo. Prefiro os lugares que já conheço.


Cléo – Vocês costumam encontrar outros “trilheiros animais” pelo caminho?

Norbu e Shanti Já encontramos alguns “trilheiros animais”, mas é raro. O mais comum é conhecer e fazer amizade com os “nativos”. São sempre simpáticos e receptivos.


Ponte do Cachorro – Visconde de Mauá  RJ


Cléo – Qual foi o roteiro que vocês mais gostaram? E por quê?

Norbu – Eu adoro água, então todos os roteiros envolvendo caiaque, rafting e SUP me levam ao delírio! Difícil dizer o que mais gostei! Gosto de todos. Amo fazer trilha também, se eu tiver que citar uma trilha seria a do canyon Malacara, na “Terra dos Canyons”, pois foi o marco do meu retorno às aventuras, após o incidente com a serpente. Eu estava tão na fissura de voltar à ativa, com tanta energia acumulada que coloquei as patas na trilha e só parei depois de duas horas quando chegamos até a piscina natural. Lá, me lancei direto na água, sem pestanejar, me refresquei da caminhada e depois de nadar com meus aumigos, dormi sobre uma rocha, com o focinho voltado para a piscina natural de águas transparentes. Não havia ninguém no caminho, somente eu e meus brothers de aventura Axel e Mutley, na época mana Shanti ainda não havia nascido.

Shanti – Eu gosto mais de correria, então me sinto bem em trilha. A trilha mais maneira que eu já fiz foi em Corupá, na “Rota das Cachoeiras”, no pé da Serra do Mar em um vale rodeado de quedas d’água e mata Atlântica, nome que os humanos dão para aquele monte de árvores cheirosas que deixam o chão repleto de folhas que grudam em nossa pelagem... éca! Subimos uma montanha grandona, mami disse que tinha 650 metros de altitude e eu nem cansei, estava radiante. Quando cheguei no topo e vi uma cachoeira de 124 metros de altura uivei para ela... auuuu!


Cléo- Hummm...aumiguinhos, acho que vou ter que falar com a Tia Elenice de novo, tá?


Cléo – Tia Elenice, quais os cuidados que você tem com Norbu e Shanti nessas aventuras?

Elenice – Cuidados gerais como check-up anual, boa alimentação, escovação regular da pelagem, banho, vacinas, vermífugos, produtos para prevenção de parasitas, os mesmos que teríamos se eles não fossem aventureiros. Cuidados específicos quando em ação: uso de coleira Scalibor, em zona endêmica de leishmaniose, caso contrário algum antiparasitário como Max3; vermífugo em dia (em geral Endogard, para prevenir contra o verme do coração). Para dar uma folga aos cães e não colocar tanto veneno neles, na cidade, adotei a prática de só utilizar fitoterápicos que combatem igualmente todos estes parasitas, mas como saem facilmente  na água e alguns ainda têm tempo de duração reduzido se o cão for para o sol, não os utilizo em nossas aventuras. Adotei também o uso de vermífugo natural. Fora isso, garrafa com água para hidratação no caminho é sagrada. Apesar de ser uma raça de cães rústicos e esportistas, sempre entram na água com colete salva-vidas. Sempre levo um kit de primeiros-socorros. Nunca os coloco para caminhar em horário de sol forte, avalio o terreno antes, pois nós usamos tênis, eles não... rs. Nunca forço o animal em trilha, respeitar o condicionamento físico do bicho é fundamental.





Cléo – E o que você recomenda levar na mochila deles?

Elenice – Isso depende do tempo de duração da viagem. Basicamente, levamos toalha, recipiente para água, lanche, guia e coleira extras, colchonete, shampoo, condicionador, alimento na medida certa, saco plástico para recolher eventuais dejetos do cão, kit de primeiros-socorros e para cães de pelo longo acrescentamos rasqueadeira, pente, silicone para passar nas franjas e secador de cabelos.


Cléo – Tia agora para fechar a entrevista, para quem está começando a se aventurar, quais as dicas que você dá para ser um “autrilheiro” e curtir muito a natureza?

Elenice – A dica mais importante que eu posso dar para quem está começando é: invista em um curso de obediência básica, pelo menos, para seu “autrilheiro”. Eu sempre digo que educar um cão é desejar se comunicar com ele. Um cão corretamente educado é mais equilibrado e ganha em liberdade quando o laço que o une a você é uma estreita cumplicidade. Isso simplifica a vida e dá mais segurança em trilha. Outro item fundamental: um cão para praticar estas aventuras não deve ser agressivo com outros cães nem com pessoas. É uma atividade que enfrenta muitos desafios e temos que dar o exemplo para que a sociedade aceite e veja que é salutar a presença dos cães em ambiente natural.



Apreciando o Pôr do Sol



Muito obrigada Tia Elenice por responder todas as minhas perguntinhas, hehe, sou mega curiosa, né? Mas acho importante que donos de outros pets, como nós, que têm o perfil aventureiro, conheçam as nossas experiências e possam aprender um pouquinho com elas.

Parabéns pela sua iniciativa de incluir o Norbu e a Shanti nas suas viagens, e mostrar que a relação “dono x cão” é a melhor parceria que existe.

Quem quiser conhecer mais sobre as aventuras dessa matilha radical é só entrar aqui no site : http://norbu.com.br/xoops/ , quem sabe você não se empolga e vai se aventurar também?

Viram como cão & aventura combinam e MUITO?! Basta tomar os devidos cuidados, escolher a trilha certa, e se preparar para curtir o que a natureza tem a nos oferecer.




Fotos: Elenice Dueñas



OBS: Não é permitida a utilização, reprodução ou cópia – total ou parcial – de texto e imagens deste post, sem autorização prévia do autor.